O Mamulengo é a forma popular e tradicional do teatro de bonecos no Brasil. Nasceu nos interiores do Nordeste e, de lá, migrou para grandes centros e outras regiões. É chamado de Mamulengo, em Pernambuco e no Distrito Federal, mas também recebe diversos nomes pelo Brasil. É Babau, na Paraíba; João Redondo ou Calunga, no Rio Grande do Norte; e Cassimiro Coco, no Ceará, Piauí e Maranhão.
A brincadeira, como é chamada a apresentação de Mamulengo, é um ofício repassado oralmente, por convívio familiar ou de mestre para aprendiz. Em 2015, foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sendo batizado de forma unificada como Teatro de Bonecos Popular do Nordeste.
Mamulengo é brinquedo
Divertimento e expressão
Boneco que vira gente
Madeira talhada à mão
É causo de amor e guerra
De fé e libertação
ORIGENS
Conta a história dita “oficial” que o teatro surgiu na Grécia e que o teatro de animação surgiu na China. Será mesmo? Ninguém sabe ao certo como e quando surgiu o teatro. Provavelmente, formas teatrais existem desde o tempo das cavernas, quando os humanos, antes mesmo da fala, encenavam o que viam pela necessidade de se comunicar.
E o Mamulengo? De onde veio? Podemos partir da história registrada nos livros, que dizem que os bonecos chegaram ao Brasil com os portugueses jesuítas, no intuito de catequizar, ou podemos reavivar a memória de mestres e mestras da oralidade, que nos recordam sobre o nascimento genuinamente brasileiro do nosso teatro popular de bonecos.
Dentre várias versões sobre a origem desse folguedo, acreditamos na memória popular, que nos fala sobre as raízes afrobrasileiras.O saudoso Mestre Ginu, bonequeiro pernambucano, contava que o Mamulengo surgiu nas senzalas, onde o povo negro escravizado se reinventava para contar histórias de libertação, a partir de bonecos esculpidos em madeira. Era a dor transformada em alegria.
Com situações cotidianas de superação e irreverência, as brincadeiras de Mamulengo percorrem o tempo, falando sobre luta, fé, amor, guerra e liberdade. Até hoje, a tolda (armação de tecido de onde o ator manipula os bonecos) se abre e as figuras ganham vida para dar voz aos sentimentos e expressões da nossa gente brasileira, trabalhadora e brincante. É o povo contando sua própria história.
“A necessidade de narrar fatos e representar por meio da ação dramática está presente em rituais de diversas culturas e tempos, e provavelmente diz respeito à necessidade humana de recriar a realidade em que vive e de transcender seus limites.”
(Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte – Teatro. 1998)
O MAMULENGO NO DISTRITO FEDERAL
No dossiê de registro do Iphan, o Distrito Federal é o local fora da região nordestina com a maior concentração de brincantes de Mamulengo. Conta-se que, na própria construção da capital, operários retirantes usavam o tempo de folga ou fugiam do trabalho exaustivo para brincar com os bonecos.
Um dos grandes semeadores da arte mamulengueira, no DF, foi o mestre Carlinhos Babau, da Companhia Carroça de Mamulengos, criada em Brasília no ano de 1977. Das vivências com Babau e com vários outros mestres que por aqui passaram, como Babi Guedes, surge o Mamulengo Presepada, de Chico Simões. Dessa raiz, inúmeros grupos e bonequeiros dão continuidade às novas gerações do folguedo.